Este artigo é uma adaptação e continuação de outro que escrevi com Michel Levy, presidente da Microsoft na época publicado no Jornal "O Globo" em 2011. Naquele momento o Brasil era a bola da vez. Tudo parecia ir bem. De lá para cá minha opinião sobre empreendedorismo não mudou, na verdade, estou mais otimista pois as eras de inovação nascem depois das crises. Para mim o copo está meio cheio.
O que um ex-comerciante de madeira e um jovem com deficiência auditiva têm em comum com o a viagem do homem a Lua?
O ex-comerciante chamava-se William Boeing. Ele criou a empresa que hoje tem seu sobrenome e transformou a aviação no que ela e hoje. O rapaz com deficiência auditiva chamava-se Thomas Edison. Ele criou a GE e foi quem primeiro entendeu o valor da inovação, dos laboratórios de pesquisa e da propriedade intelectual. O que eles têm em comum é uma história de sucesso baseada em inovação que ajudou a transformar um país.
Como empreendedores eles superaram a absoluta inexistência de ecossistemas de inovação na época e suas empresas superaram guerras e crises financeiras por mais de um século. Hoje a GE e Boeing empregam diretamente mais de 450 mil pessoas em mais de 100 paises. Sem contar o impacto enorme na cadeia produtiva, nos ecossistemas de pesquisa, nas universidades, na criação de talentos e na criação de propriedade intelectual que impactam milhões.
Juntas não só possibilitaram as viagens espaciais mas nos deram os aviões comercias, motor a jato, aviões militares, mísseis, telégrafo, geladeira, máquina de raio X, a primeira lâmpada comercial, geradores de energia elétrica,.....enfim....mudaram e ajudaram a criar o mundo como é hoje.
Histórias similares se repetiram em vários lugares inclusive no Brasil. Os ingredientes porém são sempre parecidos: espírito empreendedor e persistente de uma comunidade otimista, parceria entre setor privado, investidores, governo, universidades, agências e laboratórios com foco em inovar no longo prazo e gerar valor para o país.
Inovação tem várias definições, porém eu a vejo como uma forma criativa mais rápida e mais econômica de se atingir grandes avanços nunca antes possíveis. (Michel Levy)
Estamos cara a cara com enormes desafios e oportunidades. O Brasil precisa rapidamente aplicar a velha nova fórmula da inovação. Paradoxalmente grandes eras de inovação vieram depois de grandes crises ou períodos obscuros. O maior período de inovações talvez tenha sido o Renascimento que veio após a Idade Média. Precisamos renascer deste período entrevado da história brasileira marcada pelo mais “inovador” escândalo de corrupção da história mundial.
Apesar deles merecerem, só reclamar do governo no Facebook definitivamente não ajuda. A única coisa que gera valor é empreender. O resto é ruído ou apoio. No Brasil, apesar dos pesares, temos aumentado o nível de produção científica, o número de mestrandos, doutores e até patentes. Parece promissor o crescimento da comunidade de startups de tecnologia no Brasil. Os eventos chamados de “meet ups” que costumávamos sediar na Microsoft em 2010 hoje são 10 vezes maiores. Dezenas de aceleradoras e milhares de startups pipocaram pelo Brasil. Investidores, anjos e fundos estão presentes.São Paulo é a 12ª melhor cidade do mundo para se empreender em Tech entre as 20 melhores cidades do mundo segundo o pessoal da Startup Compass.
Sucessos do passado devem nos inspirar. Sim, já soubemos pensar globalmente ou grande: FAPESP e Embrapa como pilares atras do sucesso do Etanol, Embraer e ITA criando um pólo de excelência na indústria aeronáutica e outros. A própria Petrobrás é um exemplo de inovação tecnológica. Em software poucos sabem que a TOTVS por exemplo é maior que a SAP na América do Sul. Outras empreas como Linx, LG Sistemas são promissoras. Eu tenho a oportunidade de fazer parte do board da GeoFusion uma empresa de geomarketing-big data, muito inovadora e competente que não deve nada a nenhuma empresa de fora.
Sabemos que barreiras associadas ao que chamamos de custo brasil ainda têm que ser eliminadas. Mas estas barreiras não podem servir de desculpa para quem pretende ser empreendedor. Costumo dizer para os "geeks" que quem programa em C++, C#, java ou equivalente não pode achar difícil abrir uma empresa apesar do irracional burocrático. Israel está em guerra desde a sua criação, situada num deserto sem recursos naturais e multiplicou seu PIB dezenas de vezes nos últimos 60 anos e ganho o título de “Startup Nation”.
A recente bolha de startups americana veio depois da “Idade Média” das bolhas de tecnologia e da bolha imobiliária. A resiliência empreendedora acha oportunidades aonde existem problemas. O Brasil tem um monte de problemas: e isto é muito bom! Só oportunidades: oportunidades para "uberizarmos" tudo o que não funciona como deveria : desde empresas de ingressos (todas são um lixo) até as telcos, os meios de pagamento, a saúde, a educação e empresas aéreas, táxis.... Tudo funciona mal e está ai para ser desafiado. Vamos uberizar !
A computação na nuvem tornou o acesso a tecnologia muito mais barato. Empresas podem nascer, crescer rapidamente e resolver desafios que só empresas muito capitalizadas podiam. Uber, Airbnb, AliBabá, Waze e as próprias Google, Facebook e Amazon são todas empresas relativamente novas. Também não adianta imitarmos o modelo israelense ou o americano. Israel nitidamente tirou proveito de aspectos de sua cultura muito direta e objetiva, capacidade técnica, do fato de terem que vender para o mundo e de suas necessidades militares para gerar inovação em torno das suas competências.
Temos que fazer algo parecido. Falamos um dialeto em extinção chamado Português, não pensamos globalmente (ao menso achamos isso..), nossa cultura não é direta, as melhores Universidades públicas são distantes do setor privado “by design”, mas no entanto somos bons em automação de processos (temos os mais complicados é claro!), automação bancária, somos respeitados no campo agrícola e bio, temos um mercado interno enorme cheio de contrastes, somos criativos e trabalhamos bem em equipe pois privilegiamos a relação.
Somos seres sociais. Ainda temos matriz de energia limpa e somos o país mais ensolarado. Somos flexíveis e bons em achar soluções baratas.
Temos ideias fantásticas de empreendedorismo social. Não é a toa que somos bons em esportes coletivos e torneios de inovação para estudantes. Nosso modelo florescerá dos ingredientes daqui e não dos ingredientes de outro país.
A lâmpada de Edison pode estar iluminando o fim do túnel da inovação no Brasil. Vamos atravessá-lo com otimismo e resiliência. É uma questão de “mindset”, de querer fazer, mais do que qualquer outra coisa. Precisamos parar de reclamar e de nos lamentar. Tenho certeza que se Edison e Boeing fossem vivos e chamados para nos ajudar eles teriam uma visão otimista sobre o Brasil e nossas possibilidades. A escolha é nossa.
Engenheiro, participou de cursos de extensão na USP, Kellogg e Harvard. No início da carreira, participou da criação do primeiro “mouse” produzido no Brasil. Hoje com com 20 anos de uma carreira de sucesso local e internacional em empresas como Price Waterhouse, Baan, Deloitte, Siebel, SAP criando e gerindo times multidisciplinares . Na Midrosoft há11 anos, foi responsável por quintuplicar a receita e superar as metas de rentabilidade da área de Serviços na função de Diretor. Como responsável pela Área de Inovação lançou os programas de startups (SOL/BizSpark) que já apoiaram mais de 3 mil empresas no país, criou ou gerenciou 12 centros de inovação em parceria com Universidades e empresas, apoiou o instituto MS-Fapesp para fomento de pesquisas no Estado de SP, trouxe um “Advanced Technology Lab” da MS Research para o Brasil. Apoiou a criação de uma plataforma de investimentos para startups em diversos estágios através da MS Ventures, bateu recordes de vendas das ferramentas de desenvolvimento e através de estratégias modernas de marketing começou a mudar a percepção que os “developers” nacionais tem da Microsoft. Nos últimos 2 anos atua como Vice Presidente da área de Soluções e Alianças que ajuda, através do maior time de vendas especializadas da organização, as 500 maiores empresas do país a inovar através da tecnologia. Atua como membro do conselho na GeoFusion, uma das mais bem sucedidas startups atuais na área de Big Data. Paulo é tambėm Palestrante de destaque em diversos eventos como TEDx.
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